As chuvas que caíram no último final de semana em Salvador causaram prejuízos a diversas famílias na região do Alto da Terezinha, no Subúrbio Ferroviário da cidade. Por conta disso, 34 pessoas estão acolhidas nesta terça-feira (13), na Escola Municipal Santa Terezinha, no próprio bairro. Elas são assistidas por técnicos da Defesa Civil de Salvador (Codesal) e da Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), com apoio de servidores da Gerência Regional de Educação – Subúrbio I, da Secretaria Municipal de Educação (Smed). 

As famílias estão na instituição desde sexta-feira (9). Duas tiveram as casas condenadas, sem possibilidade de retorno para aquele lugar que um dia chamaram de lar. É o caso, por exemplo, do jovem Luciano dos Santos Silva, de 29 anos. Ele agradeceu por ter onde ficar hoje, com alimentação, salas higienizadas periodicamente e apoio psicológico para diminuir o impacto da situação. 

Desempregado e com dificuldades financeiras, ele lembrou da pandemia que hoje assola o mundo e desabafou sobre a situação, pois se sente impotente mesmo após a chuva ter cessado. “Teve casa que a água passou e não teve nada, mas a minha é de laje e a fundação se rompeu. Aí, mesmo sem a chuva corro perigo, não posso retornar porque a casa pode descer. É complicado”, disse. 

Ele conta que percebeu que a casa já apresentava problemas na segunda-feira anterior às chuvas, ao perceber que a fundação estava dando estalos, como se estivesse rachando. Segundo o jovem, os responsáveis pela construção da casa usaram material diferente do que deveria ser usado, o que impactou na estrutura do imóvel. 

Silva residia no local com a esposa, que hoje está na casa da mãe dela, em Cajazeiras. Também estão na escola a mãe dele, a auxiliar de limpeza Jaciara Santos, de 45 anos, com o esposo, além da irmã mais nova, cunhado e uma sobrinha. 

Grande família – A dona de casa Marta Santos, de 38 anos, estava acompanhada de seis dos 11 filhos, com idades que variam de dois a 21 anos. Para ela, a grande preocupação é o que eles farão depois do acolhimento. 

“Tivemos perda total, nossa casa foi condenada. Sempre em tempos de chuva a gente sai e três meses depois a gente voltava. Mas esse ano abalou a estrutura. A laje está condenada, ao lado tem um barranco cedendo e há alagamento dentro da casa. Aqui estamos nos sentindo em nosso segundo lar”, comentou. 

A mãezona salientou que todos são bem tratados no acolhimento e que o pessoal da Prefeitura é bem atencioso e educado. “Eles estão fazendo o que podem ao alcance deles para nos dar conforto e aos nossos filhos. A gente saiu de casa, malmente, com a roupa do corpo. Aqui temos refeição, um colchão, um apoio com palavras, eles conversam bastante com a gente”, completou. 

Alimentação balanceada – A nutricionista Aline Marques Conceição, do GRE – Subúrbio I contou como funciona o dia a dia de atenção aos acolhidos. Desde antes do toque das sirenes, a equipe de nutrição se reúne para elaborar o cardápio, que conta com seis refeições bem balanceadas: café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde, café da noite e uma ceia. É feito todo um treinamento com as merendeiras, lembrando que as porções são mais generosas por serem pessoas desabrigadas. 

Uma coisa é certa: de manhã tem que ter fruta, uma raiz, café e um pão. No almoço, é priorizada a adoção de feijão com arroz e proteína, com modificações no decorrer da semana que podem incluir macarrão à bolonhesa e, claro, uma fruta depois do almoço. O cardápio, confidenciou Aline, é pensado com base nas vitaminas, nutrientes e calorias, montando assim um prato colorido e saudável. 

A profissional assumiu se sentir lisonjeada por ajudar essas pessoas, que muitas vezes não têm na própria residência as refeições que recebem no acolhimento. “É um refúgio para eles. O acolhimento que faço é realmente nutrição com amor. Passo nos quartos, peço retorno sobre a comida, se gostaram, se querem que mude algo. Faço de tudo para que eles se sintam bem no abrigo”, concluiu. 

Balanço – Nesta terça-feira, a Prefeitura dispõe de oito escolas municipais acolhendo a população nas áreas de risco mais afetadas pelas chuvas recentes. Além do Alto da Terezinha, as unidades estão situadas em São Caetano, Calabetão, Sete de Abril, Lobato, Vila Picasso e Baixa do Cacau.